sábado, 23 de fevereiro de 2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

indecência big brother (desde 2013)

ele, lá do outro lado me vigia: me vislumbra menina selvagem, descaptando o calor que verdadeiramente  irradia marrom na minha pele sonora in 3-D. ele, lá do cúmulo do outro lado, não tem noção do monte de tesão que me provoca quando ele dança ela dança eu danço; do meu amor pela música popular --seja lá o que isso for --, nem desconfia do tamanho dos meus pesadelos indescritíveis, do quanto sou doce, dengosa e polida...

ele, béla bulosi e crepúsculo embaralhados num só -- a linda rosa juvenil no despertar da primavera árabe online. ele, caminhando, lá longe, imune aos meus de choros de cuíca; ele, passa distante e batido à pequenez  dos meus sonhos e milagres de avuada passarinhinhinha; ele, que nem desconfia do quanto só me valeria a morte, se antes da cova, eu escutasse pela última vez, ao menos, umas quatro dúzias e meia de cartola, pra não ter de bater as botas, boladona, praquilo que eu indistintamente nomeio outra vida .

ele -- virou caso pessoal, desapropriação à força do meu olho mais cego e sincero.

ele... passou por aqui faz tempo, parece, e inevitavelmente esquecera de mim assim, mais rápido do que supunha imaginar a duração das coisas que jamais pertencem, nesses dias velozes e ainda mais furiosos. ele -- queria que eu preenchesse, pontuasse, normativamente, categoricamente tudo aquilo que eu devaneava que eu seria pra ele, se ele fosse, se ele me... --

se ele me... -- ô glória!

se ele não me faltasse palavras, talvez, a minha tentativa soasse mais decente...

  

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

o descobrimento do brasil

ainda jovem, se divertiam o suficiente para abstrair a possibilidade da separação -- perdidos sem o menor rumo nem norte, os coitados!

sem garantia de nada, ficaram um perto do outro e se entrelaçaram simplesmente.

quem diria que no futuro eles terminariam juntos, dividindo uma modesta mas confortável cama, televisão invisível ligada:

" - você sabe o que é bolsa família?
  - sei. é pra quem tem família.
  - e todo mundo tem direito?
  - acho que tem."

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

saco

com o saco batendo, rabiolando
nas costas, no céu batendo
na boca do sapo o nome
do saco roçando na coxa
assada assim, hein coxinha,
encoxada empacotada, nada de pele na pura
e grossa, sacudo, peluda
gruda e queima toda e
arde e as formiguinha...
formiguinha, chuva de fogo! xuuu!
teu deus dizimando tuas casa, tuas cria
misericórdia deus formiguinha, misericórdia!
formiguinha, eu te entendo tua vida toda de da vida, daí, de saco
de saco dentro de saco dentro de saco de saco tudo escroto, voando, criança, ô homi do saco!
no esgoto, no esgoto com saco, sofá e bicho morto, saco, saco, saco boiando, noiando por aê aí-ô, doido pra sê insacado!
demorou mais saco, neguin, a-ê-ô! neguin, anda fumando saco, aí-ô, di-re-ta-ê-ó! mandou i-media-
tamente que não se retirasse um ramalhete de flor do saco no meu barracão, um saquim de ôrégunu
adoro saco, gente! saco, assim ó, é mara! saco é tudo? tá t-tendo? saco, pára! mara falô assim, ó? é um saco! mó caô do saco! va-ci-lô!
tem saco new generation, tem sacão geriátrico,
saco não identificado no espaço, saco estirado, puraí-ó, pelo chão
saco por aê jogado, saco sem rumo, saco sem orientação nê-uma
saco é saco, aê já sabe, né, chefe?! é um problemão!
saco é chorô com linha na laje, saco rodô na minha mão
saco no apartamento de saco cheio é um saco
de puxa-saco, saco só serve pra lixeira e pro mercado
saquinho de guarda-chuva
saco de arroz e fejão
saco de jujuba
saco da de dez
saco na sutura
saco de rabecão

domingo, 20 de janeiro de 2013

uzerê


"uzerê da minha época saltava esgoto à céu aberto de manilha em manilha, pulava muro com caco de vidro -- com uma mão só -- só pra pegar linha de pipa avuada, caía na porrada se preciso fosse pra defender o que lhe era de direito, não levava desaforo pra casa nem que isso lhe custasse olho roxo, soco na cara, sangue vermelho... pulava pra fora n'água nas enchente da chuva de janeiro, sem medo de leptospirose, rato morto, sumidouro do bueiro... uzerê da minha época trepava em amendoeira e dava teco de esterco na cabeça de transeunte distraído, bebia água fresca da mangueira do quintal das tia, tomava dos copo sujo de botequim, tudo na tranquila! no calor então-í-í-í-í-í???!!! a primeira bica que aparecesse seria a forevi-preferida! uzerê da minha época fazia meinha uns cuzotro sem se preocupar com significado categorial, adjetivo que inferisse marca de gênero, orientação sexual ou pecado... pr'uzerê da minha época, categorial era gente chique, adjetivo era coisa de escola, inferisse era caso de mertiolate, marca se tinha nas canela, gênero era janeiro num jeito engraçado de falar, orientação era o mesmo que conselho: se fosse bom não se dava, vendia! sexual era safadeza sem rôpa e pecado -- pecado ninguém sabia o que era-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------uzerê da minha época é a constante reprodução de lembrança armazenada na memória mutante, neverland edênica projetada pra balsamar o efeito colateral da castração química imposta à felicidade, liberdade sob condição de regime semi-aberto, chip intra-anal de rastreamento instalado com sucesso...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

sobre linguagem dos santos

“todo mundo tem um santo na cabeça – é só pensar que acontece. nem precisa pedir. e todo mundo têm um, olha só?!  as coisa vêm assim na mão, você atrai as coisa pra você mes-.
  esse ano é do branco e do vermelho. olha a minha casa aí-ó: sininho, tapete, colcha do sofá, até o meus brinco, ó, são do branco e vermelho. vai sê muita batalha esse ano, mas batalha com vitória na fé. a fé que faz as coisa acontecê – isso tudo é da cabeça da gente..."





"...a paz deixa a gente violento demais às veze, sabia? é porque a paz das gente é distribuída por catigoria. a nossa aqui é a catigoria do abate. nossas criança são criada à base da vitamina de abacati com leite em pó e olhe lá. é quando o santo bate no atabaque da existência – que é vazia – e arrasta as coisa do pensamento pro aqui e agora. fé não se come mas é sempre bem-vinda na minha casa. meu coração costumava sê pedra de sal, meu coração era mais árido que poço seco...
eu podia nem acreditar de todo meu coração nessa história de santo na cabeça – foi quando eu tive uma luz: a minha negação já eu era contrariando os milagre que eu mesmo havia criado, nué? purque só se nega o que já é puxado do mundo do sonho, nué...”





“... vai acabar aí, ô, pagando pra falar com o pato!
- duvido, meu filho! acabo falando sozinha mermo, mas pagar o pato? duvidê-ó-dó!
- teu problema é essaí memo: não admitir que possa pagar o pato memo sem merecelo...
- duvido! eu conheço muito da vida! já passei por cada coisa que muita gente por aí duvida!
- mai cedo ô mai tarde vira a página e dasse de cara com o pato! (risonho)
- leia bem isso, meu filho (grave): penei tanto que quase me sacrifiquei, mas como isaque, deus me poupô e teve piedade – não me sacrificou! eu era o meu próprio sacrifício do senhô, entende? hoje? hoje, eu sô santa! meus patos tão mais pra pintos comparado com us duzôtru..
- é! mas todo pinto tragicamente vira pato um dia...”

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

côca

a chuva di chuveru qui cobria a coroa di  côca  esfriô -------------------------------------------------esfriô u meu cu! esquentô inda mais a cuca da côca. côca tinha qui salvá u mundu di si toda vez inquice levantava da cama.

cansô di sê da lei, cansô du deseju contrela merma, cansô di brincá-será -- a domadora durona di lião.
côca num disperta nem dormi,
côca num diz
-cansa
 de nada!

à noitchi: côca, cô di cocada.
di-dia: côca, cô di beterrabada.

na vida viada di côca, tudu era mei zuadu, mei au contráriu, iscrotizadu ao cuá-cuá-cuá du quadradu.
xeuvê qui mais... uózadu, exuzadu, xoxadu - adu, adu, tu-tu-tudu dominadu
(i cum sabô di bala di tamarindu).

inquantu us vermi brotava du mosaicu di azuleju nu box, a água ex-corria nu corpus danone nu di côca, ralu abaxu, adentru, nu tobogã da incanação, morrenu pra renascê renovágua, na vastidão diamante di outráz-água podri.

côca nadô, nadô
pra morrê
nu cocô
paradu

côca di boca amarga da noitchi qui foi: murrinha di geladchinha xóca-xocada, misturada cu hálitu amarelu di pão cumargarina. côca tinha pricisão di vassora piaçava, coca tinha pricisão di criolina, tinha quiscová u estomâgu daquele inxagui bucal du quete-quete de vagabundona, da cata xepa madrugaidona guiodai, do jantar romântico do lachin de um re -- ai, coca!

era priciso fazê uma limpeza decenti naquilo,
dchi fora pru centro,
do centro pra tudo

dizia assim, a profecia x-tudo: no princípio era -- coca.

iscondeu a lembrança du quete-quete juntu cu medu di í pru infernu i cega du cu dela, boquetô u okani du dingu cu língua di gilete inferrujada, parasitandu ispassu i tempo, nu templu supremu dus cracudu, supensa nu cu suju du mundu feituma anja gegê, na rodoviária das rodoviada.

côca vinha di longi, purissu qui nunca existiu, purqui-num passava di uma xoxota lembrança qui-num passava di-um isquecimento de não passava de --
côca?

hálito di esmegma i porra da quetada nu dingo, deitada in papelão di seda, cercada di notícia velha de gentchi morta e tragédchia azulejada nu chão, rodiada di coco i miju.

a lua, podi sê qui tivessi linda encima du telhadu da rodoviária, linda cuz olhinhu di meninu deus num prezépio di natal.

i côca dispida feituma madona, laika virdchin.
côca, a iansã sem calcinha das tribu das enxoxotada.
a rainha sujona, sacerdota detentora das doença venérea.

côca é dez, é cem, é mil!
é superegu, é superomi!
côca qui-u pariu!

a côca erezinha queria tocá violão bonitu, qui nem u bêbadu pretu du pai:
zé jão di são juão - gente fina pur hábito,
cachaça pur profissão

cantô tanto - i foice
feitu cigarra cum frio:
cri-cri-cri, côca.

pobri coquinha du meu coração, eu ti juru quirida
qui cê vai tá sempre
cumigo nu meu
edí.

...igualzinhu a garrafa di blu-curaçau qui nôtro dia cê deu a elza na butiquete di copacabana.

"num queru sabê quem morreu, eu quero chorá - xuá-xuá-xuá."

um negu parrudu, discamisadu, fedeno, cheradu, sentadu di perna aberta. um belo pá de culhão peludu fugitivu da cueca du negu tesudu - macacu du caralhu.

"qué caí nu meu barracu, qué?! só me arrumá um galo prum tequinhu di levi, i depois cê senta nu tacape du capitão caverna!"

mas côca era mais dura qui coco e nem foi.

"não si sacrifica o dinhero da passage", divagô.

então côca correu pruma maquininha qui multiprica: prometeu uma garrafa de cidra pelu amô du negão pra pomba-gira, i si aparecesse três carinha paricida na máquina de moeda botaria um bagulho no poste da isquina pro seu zé pilintra.

i depois di tentativa-tanta -- larô-í-ê! ó-só: num é quideu três carinha na maquininha!

"-- a pior cracrolândia é da alma qui num tem isperança, meu amô!"

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

poemas cracudos (HD)

arrancar à base da porrada, da pedrada,
a faísca da fagulha uníssona
que jaz na sombra da palavra...

harmonia perfeita
nascida entrevada
das transprofundíssimas trevas da superfície
do fado inequívoco e navegador
estranha forma de ufos e ufcs
falos espaciais sopravam à nau
                                    de navios negrescos
                                                   pelos poderes de grey-skull,
                                                                                   marinheiro só!
mouros, mauras, moras e amoras
toda espécie de pipa avuada por aqui aportava
desde as lúdicas terras lusitânicas de minha saudade,
até inexoráveis nipônicos monstros e ultra-ninjas jirayas!
                                                      
ó, página da rede fictícia em que tu me lês!
                                               tu és o meu milagre dos peixes!

                                                         grandes são os desertos e as cracolândias do meu coração...
                                                            na sola do pé
                                                             que minha língua suja lambe!    
antes sucumbo, eu, meus ais e iá-iá-iás!
janaína, ou seja lá quem queres que eu te nomeie!

janaína-janá!
janaína-hermes-exu!
vete al carajo, maldita!
desdichada, negrita do pastoreio cor de coca-cola!
atrevas a te atravessar o transatlântico
da página oca e holográfíca,
que eu já-já te mostro só o que é bom pra tosse!
bela filha da puta, do meu folclórico cântico handicap dos meus cânticos!

                                                        desarrede do esgoto da margem e erre!
                                                   e erre! erre, retardada orfã dundun!
rodando e rodopiando, pomba-gira samsariana mutante do futuro!

dê-me nomes de pastores,
desendemonizadores pastores!
ó, rebanho de tecnólogos e engenheiros navais!
ó, gracilianos bolores em flores astrais!
sem querer, o jugo da página branca
deu em graça mulatizada tropicana!

onde é que
rosa mia?
onde é que
rosa espanca?
-- sim, onde a coruja dorme, somos imortais...

minha pátria é minha...
minha pátria? minha purpurina!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

vielas pacificadas da narrativa


querê parecê difícil é muito fácil! difícil é soar fácil sem perdê a dificulidade do coiso coisado, seu moço! só ar fácil já é difícil pra cassete, ô! pra k-7 -- é noiz na fita, no DVD e no blue-ray (só não pode ser eles, já é?!). o fácil  né nada mole, na realeza! o fácil é dessas: poltronas programadas pra conectar o telespectador ao sinal holográfico da TV à cabo, computadoras portáteis na favela de fios espalhados no chão, estarão todos lá, todos como hoje ainda, embolados na imitação da imitação -- voltemos ao plantão: é facinho de conhecer, ó, está a um clique da informa... -- peraí. "--cala a boca já morreu!"

retomando: adoro viver aqui, onde o mais nobre dos atributos é ser mediano...

peraê que tem alguma coisa coisando pelaê,ó, algo de errado que não tá certamente certo, acontecendo neste exato instantaê, ó. o clique e a reprodução do pulo de jacira-pererê, a girafa alienígena no zu-u, duplicações de paraguas cintilantas, "copacabana beach", como é doce o beijo quando vem da tua boca...

a real, lek? é facil demais se perder pelas vielas pacificadas da narrativa...  

sábado, 29 de dezembro de 2012

agora que o mundo acabou ontem

                                                                                                   (escrito antes do fim do mundo)

agora que o mundo acabou ontem, será um para sempre não foi. só os sonhos e as baratas se salvarão, pois, como já era sabido desde antes, os sonhos daqui não são -- sonhos pertencem ao lado de lá. quanto as baratas, bem... baratas são dinossáuricas aladas noturnas devoradoras de pesadelo. barata é indispensável susto, medo que anima a vida: ei! acorde aí! bom dia, vida! tá ruim? mas é vida! e é por isso que não se alcança sonho -- sonho é inspiração. poros sanilizam sonhos o tempo todo... sonho é suor, não mérito. sonho não é pra ser lembrado, antes, nasce para ser esquecido, natimorto tadinho! mas o mundo acabou e todo ar e inspiração me foram privados ontem à noite, ou de tarde. agora já não se sabe e, de fato, diferença nenhuma faz, do não-ser-ou-estar onde estou...


domingo, 23 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte -218)

atravessei um campo repleto de botões de zumbis
transversei-o em campo de lírios cor de carmesim...

a míope sensação de vida inicia a partir desta linha:
"mi vê uá cinza di cigarruaê, til!" disse o maltrapilho, pobre diabo

(apenas através da bala, uma só, na cabeça, do outro lado o buraco
quase um furinho seria, e resolveria tudo fá-sim-fá-sim -- é...
sangue? sangue seria pouco, quase nenhum!
num dá nem pra urubu com fome comer
porque é coisa ruim, encosto do cão...

-- antropofagiza issaê só, pra vê o caô da má-digestão que vai dá?!)

"me faz uma chupeta que eu te dou uma prata, menó!"
"já é, vamu ali, chegá só..."

contemplar a beleza da rodela de esmegma
da piroca roliça e mole, melecada, da minha musa cracuda!
mudinhas de pentelho mal-ensaboadas, uma aqui outra ali
evidenciando o futuro dum homem que jamais iria existir
que só nasceu por nascer, pra viver à beira do -- por aí!
hálito putretino, dentes enegrecidos onde tinha
cabelo crespo, olhos de ameixa e pele negra retinta

"-- agora beja minha boca ardente!"
eu implorava na febre da farinha!
meu cu corola de girassol
piscava feito farol
guiando pro naufrágio!

bejo sucedido de soco na boca do estômago
carteira, celular e coito -- sumiu na neblina...

agora só me resta a dor da inspiração
e a acusação de corrupção de menor
ó vida ingrata, ó vida indigna!
o salário do pecado é a própria vida
-- morte é lucro

domingo, 9 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte 0)



derreteu...
essa é a sensação

todos os olhos voltados pra mim
      eu sou o centro do universo
deus me escolheu pra nomear
                     os sem nomes

já é quase manhã
céu roxo, róseo e lilás
 guardiões e sentinelas
            já se renderam

a lua se escondeu
na costa do horizonte
 (ontem liquefeito hoje
    em forma de orvalho)

ninguém e nada entre
linhas
plataformas
trens
cuidado com o vão
entre...

plantado na boca
o assassino me beja
é dele a vida cuspida em semente
um quiçá moreno dentro da minha boca
que custou vinte reais, somente, nem!

ah, genet! eu sô mais suja que tua nossa senhora!
ai, rimbaud! quem me arrombô no teu barco à deriva?

eu não tenho medo do vazio sonoro da folha
do traçante vermelho da cápsula na cabeça
da pedrada fumuda em dezideia burlesca
nem da certera metamorroida no vaso


sô anja varejera, meu amor!
  
ó, père lachaise! ó, caju e jão batista!
ó, irajá! ó, ricardo de albuquerque!
ó, sonhos exumados de persefone!

lida e morta
ou morta e lida?
ou os dois?
ou nenhum dos dois?.
tanto fez ou faz!
o que fiz, afinal, eu?
nada, da vida, nada!
nada que prestasse!
nada à vista!
veja
satélites rastreando o olho do meu cu
anúncio de fejão em tripé-falo alienígena
waly salomão empreguete de allen ginsberg
(ó, drummond! os suicidas estavam certos!)

o que seria deste poema de merda
se (eu) não estivesse incompleta?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte I)



franz kakfa bejô
o meu edí...

afogou-se no meus
pentelhos meduzã
chupando minha
virilha ‘patafísica
de maga patalógica

(afffí! meus sonhos escondidos
de diazepam)

– iluminação, hum?!
aqui o bagulho é doido
e o processo é metamórfico
e baratão

parangolem de periferia
guiodai rabino-imã
porta-estandarte da transbordante informação
em manchetes de jornais marrons
(vermelhos quando espremidos em
                                          laranja)

meinha, unção & afã
na tribo de benjamim & judá

o pacto de jonatas e davi:
enquanto um come, o outro dá
até que serene a estrela da manhã
até que a sereia sambe ao pisar na areia

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte II)


quem diria, meu amor?
eu e genet, duas em uma
suor, sangue, odor e cerveja

“–me he olvidado de la bella luna!”
– mó papo nada a vê, furado, morô?!
"–que qui é issu? não, fechamento!
com vizinho é sempre "sim",
fechô!"

porque  há o direito a:
não ter, poder e animar
o coisar pulsante, pululante
da coisa (que é santa e loca)

porque há o direito de:
soar absolutamente anônimo
como o silêncio
entre os
– espaços –
que tocam os dedos vendados

(poesia discreta e versátil,
zero afeminada,
procura:)

poema sobre poema
palavra sob palavra
isso, é só querer dizer essas coisas
e não outras

(II)

quero chamá-lo poema
quero chamá-lo xereca
quero chamá-lo qualquer coisa séria, muito
seria pouco pra tentar:
ele pulou da janela do pala-
VREADO
– o dano causado
porém foi pouco
– invalidez semântica
carimbado na carteira
de trabalho
sim, sinhô
-rita!

   quero chamá-lo caeiro
    quero chamá-lo viadu
quero chamá-lo nuchaku
                              ninja
quero chamá-lo pikachu
 quero chamá-lo jaspion

traficante humanista
triângulo retângulo
quadrilátero
cabelelero
do espaço

(III)

quero nomeá-lo segundo
as circunstâncias
quero iniciá-lo segundo
seu uso primeiro

(ele é vazio e incompleto
por si mesmo, já basta
isso por si só
vela,
eletricidade,
candelabro,
candeeiro...)

protex azul 
desbacterizandu o orí
  do homem do futuro

quero desvendá-lo, sonho de
maria, beijo do judas,
olho de araruta,
café,
cachaça,
amarula

acabou-se o fim!
instaurou-se o reino do meio!
tudo inacabado
entre nós três...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte II)


(I)

a anta tem a piroca
desproporcional ao seu
tamanho 
genital


o som tem
a velocidade do
corpo em chamas
na atmosfesra red-bullica
com vodka e gelo
na balada

– eu sei de minhas
verdades absurdas
em comparação com
a comparação das verdades
restantes. eu sou
a prova viva da poesia
embranquecida
amulatada
e negra – não, negra não!

genet e wilde jamais
sonhariam minhas
lamúrias tropicais!
mas eu
sou 
mais 


(II)

não espere promessas, recompensas
vestígios daquilo que eu
um dia fui

ó, o barco bêbado de rimbaud
passou e foi-se...

(jamais chuparia verlaine
por ser passiva e parda,
jamais daria prum
índio maludo ou dumdum,
se não pudesse aguentá-lo-la
--digo, sua caralha!)

tupi or not tupi
– eis a questona!

ai, na central do
brasil os sinos dobram!

a pegação no pan-ban-
quinho da hebe passa
impune

e eu sou tão teu king
tão brabuleta sonhada
e sonífera

velha angela pralini avistando
de costas pra frente, no trem,
us viaciadu desalinhadu
na linha de
ogum

(ah, meu pai! valei-me!)

sou a pós-modernidade tardia
que não existe (como dizem)
que é apenas um conceito
ou seja lá
o que  é
ou for
na gira da 
agoreidade

sou a tendência da
neve e suas
brancas cores distintas
pra cada ocasião
inuí

sou a cracolândia
personificada
em nossa senhora das flores
ou: rebeca vênus da barroquinha

(III)

sou apocaetanisíaca
em outras palavras
sou junqueira freire
esquecido no claustro
as escumas, de castro alves
– navio negreiro, queru sê não!

sou salvador
salvadora
daqui
dali
oxê
ói
ó

a sacizêra da barroquinha
barroquista zica brasilera
jamais existida pois
ninguém jamais a
viu, nem há
de ver
ora
só?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte III)

perdão, se nesta noite
não me entregarei!

cê sabe que, por você, eu fumaria
crack no copinho de
guaravita

por você, eu esqueceria
a previsibilidade da rima
o expectorante da tua tuberculose
e beijaria tua boca doente
de língua

na quebrada dus manu
eu fui toda quebrada
purque diferente da puta de alencar
deveras, puta eu era, fui e sou

chupava eu o zizerrudo cafuçú
de repente, é cano, é pau, é pedra
–  é o fim do caminho! gritaru os manu

enquanto isso, eu sorria
entrano na porrada
entretanto
exilada na (calada!)
do momento
calada!
vadia!
sangrando toda
absolutamente incompleta
sem uns dente aqui, umas costela aculá...

domingo, 2 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte IV)

santo! santo! santo! santo! santo!
santo! santo! santo! santo! santo!
ai, santa!
santa boca, santa carne
santa unha, santa ceia
santa bunda, santa vulva
santa tartaruga!
santa sereia!
santa, senta aí!
santa, se renda!
santa,  se rendinha!
santa, se seda!
santa, se exceda!
santa, com’ ‘cê ‘tava ‘desaparecida?
santa, ‘cê ‘tá cuma cara di-apodrecida!
santa, overdose de cocaína!
santa senhora da barroquinha
toda molhadinha, sem calcinha!
minha oração pra senhora será:
“enquanto for a vida ilógica
sem métrica, nem rima
só na janela imunológica!
só sem camisinha!”

sábado, 1 de dezembro de 2012

poemas cracudos (parte V)

rebeca vênus de milo du kaô! voz de rabeca rajada nu truque da stradivárias, enojadíssima nouvelle vague, patrícia
ridícula de araque!
rebeca vênus revendedora demillus!
madeixas ruivas rebentam no vento, pele cor dos sem sangue por dentro, 
rebeca vênus de milho com margarina!
vandaliza a libido masculina 
tua beleza vazia de
santa pomba-gira bêbada zigue-zagueando
monalisa invenção de intervenção basquiatiana
baile funk acari disfarçado de bossa-nova ipanema
palavras cheias de dedos na boca, cabeça oca jean-claude-van-dammeando no silêncio da má sina de querer causar apenas a impressão de ser mais uma mulher.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

à manjação da vontade


não desejo nada -- ter vontades é meu único capricho. a espontaneidade da vontade é brasa que não queima. às vezes, explode feito fogos de artifício colorindo o negrume da noite. comemora-se -- cinco minutos depois perde a graça. por ora, saber o que não se quer é mais importante, pois a vida é uma grande seleção eliminatória, deusa louca banhando os filhos fracos no lago infernal. não querer é caminhar à beira do despenhadeiro da morte, é paralisar a energia dos moinhos que movem a vida, é expurgar o câncer que adoece a alma. vontade: segredo revelado, vislumbrado e esquecido em seguida. contrária à verdade, cada vontade possui uma certeza absoluta e só e basta.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

à ver a eira do agora

na eira da pedra havia um caminho
havia um caminho na eira da pedra
na pedra do caminho havia uma eira

também com a existência se deu assim:
era preciso de haver algo ou depois ou antes
coisa metamórfica, tipo, gente assim de lua
que muda do nada a ver

no princípio (eu tenho certeza), preguiça
era virtude -- porque tudo levou muito tempo
até chegar hoje e desembocar naquilo que eu tô
imaginando como agora

domingo, 18 de novembro de 2012

quando a teoria não hidrata mais a pele

perdi a mão com tanta inspiração antiga e empoeirada na c...

as tarefas cotidianas são sempre manuais e cansativas. não é muito difícil fazer com que a mente se desprenda da gravidade do corpo puxado para o centro da terra...

no início, não, pra falar a verdade, foi depois -- deus criou eva que seria a "companheira". costelas a menos não seriam o menor problema. mas daí surgiu uma série de deveres jamais discutidos cortesmente -- como convém a uma mulher e a um deus. o que resultou em um equívoco histórico terribilíssimo: a mulher dos dias hoje...

aspiração pra guardador de memória, isso sim, eu tenho. guardar memórias é de uma utilidade absurda, imagina? cada lembrança é pedrinha única, coloridinha, no mosaico inacabado da vida (pois é, aqueles que procuram juntar razões pra racionalizar esse caos em estruturas e categorias, ou supor atribuições disto aqui ou aquilo ou acolá, ou problematizar o trauma dos histéricos e seus impasses maternos mal resolvidos, ou crucificar aqueles higienizados crônicos cujas bocas escovadas nunca chegam a cópula, ou vislumbrar a vida como uma linguagem cujo sentido existe em função do uso reincidente ou criativo dela mesma)...

minha vida hoje é louça inacabada de ontem sempre, veja você?!

e depois dele, aquilo que um dia fora entidade completa, tornou-se história ou ponto de referência na cartesiana organização temporal de um passado feio, obeso e cristão, cheio de marcos e datas e acontecimentos e reviravoltas. de repente, sem que ninguém se dê conta, um ente torna-se coisa que ficou pra trás, intátil cerâmica decorativa de estante, qualquer coisa gracinha de um real e noventa e noite. talvez eu tenha exagerado demais nas minhas divagações enquanto enxáguo o ensaboado pastoso. é absurdo como certas áreas são desengorduráveis, não?! não há produto que penetre, que  aniquile, que atinja ou extermine a gordura lá do fundo, bem escondida no cantinho, não há bolhas de oxigênio que dissolvem a...
-- uma vez agarrado pela gordura, já era.

não adianta esfregar com a ponta do dedo -- está tudo perdido.

a indústria da propaganda nos promete através de explicações científicas e de fácil entendimento, o quão limpo e imunes ficaremos após a utilização de produtos cuja sensação gordurosa nos causará a impressão de limpeza, aroma e maciez... e proteção.

cada um se protege como pode, né?

a gordura está na superfície, não penetra. gordura é transtorno e solução ao mesmo tempo.

(já eu, prefiro fazer a gordona de veias entupidas antes de cair nessa...)