quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

o descobrimento do brasil

ainda jovem, se divertiam o suficiente para abstrair a possibilidade da separação -- perdidos sem o menor rumo nem norte, os coitados!

sem garantia de nada, ficaram um perto do outro e se entrelaçaram simplesmente.

quem diria que no futuro eles terminariam juntos, dividindo uma modesta mas confortável cama, televisão invisível ligada:

" - você sabe o que é bolsa família?
  - sei. é pra quem tem família.
  - e todo mundo tem direito?
  - acho que tem."

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

saco

com o saco batendo, rabiolando
nas costas, no céu batendo
na boca do sapo o nome
do saco roçando na coxa
assada assim, hein coxinha,
encoxada empacotada, nada de pele na pura
e grossa, sacudo, peluda
gruda e queima toda e
arde e as formiguinha...
formiguinha, chuva de fogo! xuuu!
teu deus dizimando tuas casa, tuas cria
misericórdia deus formiguinha, misericórdia!
formiguinha, eu te entendo tua vida toda de da vida, daí, de saco
de saco dentro de saco dentro de saco de saco tudo escroto, voando, criança, ô homi do saco!
no esgoto, no esgoto com saco, sofá e bicho morto, saco, saco, saco boiando, noiando por aê aí-ô, doido pra sê insacado!
demorou mais saco, neguin, a-ê-ô! neguin, anda fumando saco, aí-ô, di-re-ta-ê-ó! mandou i-media-
tamente que não se retirasse um ramalhete de flor do saco no meu barracão, um saquim de ôrégunu
adoro saco, gente! saco, assim ó, é mara! saco é tudo? tá t-tendo? saco, pára! mara falô assim, ó? é um saco! mó caô do saco! va-ci-lô!
tem saco new generation, tem sacão geriátrico,
saco não identificado no espaço, saco estirado, puraí-ó, pelo chão
saco por aê jogado, saco sem rumo, saco sem orientação nê-uma
saco é saco, aê já sabe, né, chefe?! é um problemão!
saco é chorô com linha na laje, saco rodô na minha mão
saco no apartamento de saco cheio é um saco
de puxa-saco, saco só serve pra lixeira e pro mercado
saquinho de guarda-chuva
saco de arroz e fejão
saco de jujuba
saco da de dez
saco na sutura
saco de rabecão

domingo, 20 de janeiro de 2013

uzerê


"uzerê da minha época saltava esgoto à céu aberto de manilha em manilha, pulava muro com caco de vidro -- com uma mão só -- só pra pegar linha de pipa avuada, caía na porrada se preciso fosse pra defender o que lhe era de direito, não levava desaforo pra casa nem que isso lhe custasse olho roxo, soco na cara, sangue vermelho... pulava pra fora n'água nas enchente da chuva de janeiro, sem medo de leptospirose, rato morto, sumidouro do bueiro... uzerê da minha época trepava em amendoeira e dava teco de esterco na cabeça de transeunte distraído, bebia água fresca da mangueira do quintal das tia, tomava dos copo sujo de botequim, tudo na tranquila! no calor então-í-í-í-í-í???!!! a primeira bica que aparecesse seria a forevi-preferida! uzerê da minha época fazia meinha uns cuzotro sem se preocupar com significado categorial, adjetivo que inferisse marca de gênero, orientação sexual ou pecado... pr'uzerê da minha época, categorial era gente chique, adjetivo era coisa de escola, inferisse era caso de mertiolate, marca se tinha nas canela, gênero era janeiro num jeito engraçado de falar, orientação era o mesmo que conselho: se fosse bom não se dava, vendia! sexual era safadeza sem rôpa e pecado -- pecado ninguém sabia o que era-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------uzerê da minha época é a constante reprodução de lembrança armazenada na memória mutante, neverland edênica projetada pra balsamar o efeito colateral da castração química imposta à felicidade, liberdade sob condição de regime semi-aberto, chip intra-anal de rastreamento instalado com sucesso...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

sobre linguagem dos santos

“todo mundo tem um santo na cabeça – é só pensar que acontece. nem precisa pedir. e todo mundo têm um, olha só?!  as coisa vêm assim na mão, você atrai as coisa pra você mes-.
  esse ano é do branco e do vermelho. olha a minha casa aí-ó: sininho, tapete, colcha do sofá, até o meus brinco, ó, são do branco e vermelho. vai sê muita batalha esse ano, mas batalha com vitória na fé. a fé que faz as coisa acontecê – isso tudo é da cabeça da gente..."





"...a paz deixa a gente violento demais às veze, sabia? é porque a paz das gente é distribuída por catigoria. a nossa aqui é a catigoria do abate. nossas criança são criada à base da vitamina de abacati com leite em pó e olhe lá. é quando o santo bate no atabaque da existência – que é vazia – e arrasta as coisa do pensamento pro aqui e agora. fé não se come mas é sempre bem-vinda na minha casa. meu coração costumava sê pedra de sal, meu coração era mais árido que poço seco...
eu podia nem acreditar de todo meu coração nessa história de santo na cabeça – foi quando eu tive uma luz: a minha negação já eu era contrariando os milagre que eu mesmo havia criado, nué? purque só se nega o que já é puxado do mundo do sonho, nué...”





“... vai acabar aí, ô, pagando pra falar com o pato!
- duvido, meu filho! acabo falando sozinha mermo, mas pagar o pato? duvidê-ó-dó!
- teu problema é essaí memo: não admitir que possa pagar o pato memo sem merecelo...
- duvido! eu conheço muito da vida! já passei por cada coisa que muita gente por aí duvida!
- mai cedo ô mai tarde vira a página e dasse de cara com o pato! (risonho)
- leia bem isso, meu filho (grave): penei tanto que quase me sacrifiquei, mas como isaque, deus me poupô e teve piedade – não me sacrificou! eu era o meu próprio sacrifício do senhô, entende? hoje? hoje, eu sô santa! meus patos tão mais pra pintos comparado com us duzôtru..
- é! mas todo pinto tragicamente vira pato um dia...”

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

côca

a chuva di chuveru qui cobria a coroa di  côca  esfriô -------------------------------------------------esfriô u meu cu! esquentô inda mais a cuca da côca. côca tinha qui salvá u mundu di si toda vez inquice levantava da cama.

cansô di sê da lei, cansô du deseju contrela merma, cansô di brincá-será -- a domadora durona di lião.
côca num disperta nem dormi,
côca num diz
-cansa
 de nada!

à noitchi: côca, cô di cocada.
di-dia: côca, cô di beterrabada.

na vida viada di côca, tudu era mei zuadu, mei au contráriu, iscrotizadu ao cuá-cuá-cuá du quadradu.
xeuvê qui mais... uózadu, exuzadu, xoxadu - adu, adu, tu-tu-tudu dominadu
(i cum sabô di bala di tamarindu).

inquantu us vermi brotava du mosaicu di azuleju nu box, a água ex-corria nu corpus danone nu di côca, ralu abaxu, adentru, nu tobogã da incanação, morrenu pra renascê renovágua, na vastidão diamante di outráz-água podri.

côca nadô, nadô
pra morrê
nu cocô
paradu

côca di boca amarga da noitchi qui foi: murrinha di geladchinha xóca-xocada, misturada cu hálitu amarelu di pão cumargarina. côca tinha pricisão di vassora piaçava, coca tinha pricisão di criolina, tinha quiscová u estomâgu daquele inxagui bucal du quete-quete de vagabundona, da cata xepa madrugaidona guiodai, do jantar romântico do lachin de um re -- ai, coca!

era priciso fazê uma limpeza decenti naquilo,
dchi fora pru centro,
do centro pra tudo

dizia assim, a profecia x-tudo: no princípio era -- coca.

iscondeu a lembrança du quete-quete juntu cu medu di í pru infernu i cega du cu dela, boquetô u okani du dingu cu língua di gilete inferrujada, parasitandu ispassu i tempo, nu templu supremu dus cracudu, supensa nu cu suju du mundu feituma anja gegê, na rodoviária das rodoviada.

côca vinha di longi, purissu qui nunca existiu, purqui-num passava di uma xoxota lembrança qui-num passava di-um isquecimento de não passava de --
côca?

hálito di esmegma i porra da quetada nu dingo, deitada in papelão di seda, cercada di notícia velha de gentchi morta e tragédchia azulejada nu chão, rodiada di coco i miju.

a lua, podi sê qui tivessi linda encima du telhadu da rodoviária, linda cuz olhinhu di meninu deus num prezépio di natal.

i côca dispida feituma madona, laika virdchin.
côca, a iansã sem calcinha das tribu das enxoxotada.
a rainha sujona, sacerdota detentora das doença venérea.

côca é dez, é cem, é mil!
é superegu, é superomi!
côca qui-u pariu!

a côca erezinha queria tocá violão bonitu, qui nem u bêbadu pretu du pai:
zé jão di são juão - gente fina pur hábito,
cachaça pur profissão

cantô tanto - i foice
feitu cigarra cum frio:
cri-cri-cri, côca.

pobri coquinha du meu coração, eu ti juru quirida
qui cê vai tá sempre
cumigo nu meu
edí.

...igualzinhu a garrafa di blu-curaçau qui nôtro dia cê deu a elza na butiquete di copacabana.

"num queru sabê quem morreu, eu quero chorá - xuá-xuá-xuá."

um negu parrudu, discamisadu, fedeno, cheradu, sentadu di perna aberta. um belo pá de culhão peludu fugitivu da cueca du negu tesudu - macacu du caralhu.

"qué caí nu meu barracu, qué?! só me arrumá um galo prum tequinhu di levi, i depois cê senta nu tacape du capitão caverna!"

mas côca era mais dura qui coco e nem foi.

"não si sacrifica o dinhero da passage", divagô.

então côca correu pruma maquininha qui multiprica: prometeu uma garrafa de cidra pelu amô du negão pra pomba-gira, i si aparecesse três carinha paricida na máquina de moeda botaria um bagulho no poste da isquina pro seu zé pilintra.

i depois di tentativa-tanta -- larô-í-ê! ó-só: num é quideu três carinha na maquininha!

"-- a pior cracrolândia é da alma qui num tem isperança, meu amô!"

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

poemas cracudos (HD)

arrancar à base da porrada, da pedrada,
a faísca da fagulha uníssona
que jaz na sombra da palavra...

harmonia perfeita
nascida entrevada
das transprofundíssimas trevas da superfície
do fado inequívoco e navegador
estranha forma de ufos e ufcs
falos espaciais sopravam à nau
                                    de navios negrescos
                                                   pelos poderes de grey-skull,
                                                                                   marinheiro só!
mouros, mauras, moras e amoras
toda espécie de pipa avuada por aqui aportava
desde as lúdicas terras lusitânicas de minha saudade,
até inexoráveis nipônicos monstros e ultra-ninjas jirayas!
                                                      
ó, página da rede fictícia em que tu me lês!
                                               tu és o meu milagre dos peixes!

                                                         grandes são os desertos e as cracolândias do meu coração...
                                                            na sola do pé
                                                             que minha língua suja lambe!    
antes sucumbo, eu, meus ais e iá-iá-iás!
janaína, ou seja lá quem queres que eu te nomeie!

janaína-janá!
janaína-hermes-exu!
vete al carajo, maldita!
desdichada, negrita do pastoreio cor de coca-cola!
atrevas a te atravessar o transatlântico
da página oca e holográfíca,
que eu já-já te mostro só o que é bom pra tosse!
bela filha da puta, do meu folclórico cântico handicap dos meus cânticos!

                                                        desarrede do esgoto da margem e erre!
                                                   e erre! erre, retardada orfã dundun!
rodando e rodopiando, pomba-gira samsariana mutante do futuro!

dê-me nomes de pastores,
desendemonizadores pastores!
ó, rebanho de tecnólogos e engenheiros navais!
ó, gracilianos bolores em flores astrais!
sem querer, o jugo da página branca
deu em graça mulatizada tropicana!

onde é que
rosa mia?
onde é que
rosa espanca?
-- sim, onde a coruja dorme, somos imortais...

minha pátria é minha...
minha pátria? minha purpurina!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

vielas pacificadas da narrativa


querê parecê difícil é muito fácil! difícil é soar fácil sem perdê a dificulidade do coiso coisado, seu moço! só ar fácil já é difícil pra cassete, ô! pra k-7 -- é noiz na fita, no DVD e no blue-ray (só não pode ser eles, já é?!). o fácil  né nada mole, na realeza! o fácil é dessas: poltronas programadas pra conectar o telespectador ao sinal holográfico da TV à cabo, computadoras portáteis na favela de fios espalhados no chão, estarão todos lá, todos como hoje ainda, embolados na imitação da imitação -- voltemos ao plantão: é facinho de conhecer, ó, está a um clique da informa... -- peraí. "--cala a boca já morreu!"

retomando: adoro viver aqui, onde o mais nobre dos atributos é ser mediano...

peraê que tem alguma coisa coisando pelaê,ó, algo de errado que não tá certamente certo, acontecendo neste exato instantaê, ó. o clique e a reprodução do pulo de jacira-pererê, a girafa alienígena no zu-u, duplicações de paraguas cintilantas, "copacabana beach", como é doce o beijo quando vem da tua boca...

a real, lek? é facil demais se perder pelas vielas pacificadas da narrativa...