"uzerê da minha época saltava esgoto à céu aberto de manilha em manilha, pulava muro com caco de vidro -- com uma mão só -- só pra pegar linha de pipa avuada, caía na porrada se preciso fosse pra defender o que lhe era de direito, não levava desaforo pra casa nem que isso lhe custasse olho roxo, soco na cara, sangue vermelho... pulava pra fora n'água nas enchente da chuva de janeiro, sem medo de leptospirose, rato morto, sumidouro do bueiro... uzerê da minha época trepava em amendoeira e dava teco de esterco na cabeça de transeunte distraído, bebia água fresca da mangueira do quintal das tia, tomava dos copo sujo de botequim, tudo na tranquila! no calor então-í-í-í-í-í???!!! a primeira bica que aparecesse seria a forevi-preferida! uzerê da minha época fazia meinha uns cuzotro sem se preocupar com significado categorial, adjetivo que inferisse marca de gênero, orientação sexual ou pecado... pr'uzerê da minha época, categorial era gente chique, adjetivo era coisa de escola, inferisse era caso de mertiolate, marca se tinha nas canela, gênero era janeiro num jeito engraçado de falar, orientação era o mesmo que conselho: se fosse bom não se dava, vendia! sexual era safadeza sem rôpa e pecado -- pecado ninguém sabia o que era-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------uzerê da minha época é a constante reprodução de lembrança armazenada na memória mutante, neverland edênica projetada pra balsamar o efeito colateral da castração química imposta à felicidade, liberdade sob condição de regime semi-aberto, chip intra-anal de rastreamento instalado com sucesso...
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