quinta-feira, 29 de novembro de 2012

à manjação da vontade


não desejo nada -- ter vontades é meu único capricho. a espontaneidade da vontade é brasa que não queima. às vezes, explode feito fogos de artifício colorindo o negrume da noite. comemora-se -- cinco minutos depois perde a graça. por ora, saber o que não se quer é mais importante, pois a vida é uma grande seleção eliminatória, deusa louca banhando os filhos fracos no lago infernal. não querer é caminhar à beira do despenhadeiro da morte, é paralisar a energia dos moinhos que movem a vida, é expurgar o câncer que adoece a alma. vontade: segredo revelado, vislumbrado e esquecido em seguida. contrária à verdade, cada vontade possui uma certeza absoluta e só e basta.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

à ver a eira do agora

na eira da pedra havia um caminho
havia um caminho na eira da pedra
na pedra do caminho havia uma eira

também com a existência se deu assim:
era preciso de haver algo ou depois ou antes
coisa metamórfica, tipo, gente assim de lua
que muda do nada a ver

no princípio (eu tenho certeza), preguiça
era virtude -- porque tudo levou muito tempo
até chegar hoje e desembocar naquilo que eu tô
imaginando como agora

domingo, 18 de novembro de 2012

quando a teoria não hidrata mais a pele

perdi a mão com tanta inspiração antiga e empoeirada na c...

as tarefas cotidianas são sempre manuais e cansativas. não é muito difícil fazer com que a mente se desprenda da gravidade do corpo puxado para o centro da terra...

no início, não, pra falar a verdade, foi depois -- deus criou eva que seria a "companheira". costelas a menos não seriam o menor problema. mas daí surgiu uma série de deveres jamais discutidos cortesmente -- como convém a uma mulher e a um deus. o que resultou em um equívoco histórico terribilíssimo: a mulher dos dias hoje...

aspiração pra guardador de memória, isso sim, eu tenho. guardar memórias é de uma utilidade absurda, imagina? cada lembrança é pedrinha única, coloridinha, no mosaico inacabado da vida (pois é, aqueles que procuram juntar razões pra racionalizar esse caos em estruturas e categorias, ou supor atribuições disto aqui ou aquilo ou acolá, ou problematizar o trauma dos histéricos e seus impasses maternos mal resolvidos, ou crucificar aqueles higienizados crônicos cujas bocas escovadas nunca chegam a cópula, ou vislumbrar a vida como uma linguagem cujo sentido existe em função do uso reincidente ou criativo dela mesma)...

minha vida hoje é louça inacabada de ontem sempre, veja você?!

e depois dele, aquilo que um dia fora entidade completa, tornou-se história ou ponto de referência na cartesiana organização temporal de um passado feio, obeso e cristão, cheio de marcos e datas e acontecimentos e reviravoltas. de repente, sem que ninguém se dê conta, um ente torna-se coisa que ficou pra trás, intátil cerâmica decorativa de estante, qualquer coisa gracinha de um real e noventa e noite. talvez eu tenha exagerado demais nas minhas divagações enquanto enxáguo o ensaboado pastoso. é absurdo como certas áreas são desengorduráveis, não?! não há produto que penetre, que  aniquile, que atinja ou extermine a gordura lá do fundo, bem escondida no cantinho, não há bolhas de oxigênio que dissolvem a...
-- uma vez agarrado pela gordura, já era.

não adianta esfregar com a ponta do dedo -- está tudo perdido.

a indústria da propaganda nos promete através de explicações científicas e de fácil entendimento, o quão limpo e imunes ficaremos após a utilização de produtos cuja sensação gordurosa nos causará a impressão de limpeza, aroma e maciez... e proteção.

cada um se protege como pode, né?

a gordura está na superfície, não penetra. gordura é transtorno e solução ao mesmo tempo.

(já eu, prefiro fazer a gordona de veias entupidas antes de cair nessa...)