segunda-feira, 18 de maio de 2009

poemóides


a palavra muda:
que titubeia o coração
urro inexprimível
de símbolos reticentes

perecíveis
impressas e inflamáveis
contagiosamente empoeiradas
cátedra dos cupins

sacro transgressoras
do Eu Sou
retórica de satã

projeção cega
liquefeita nos olhos
em cataratas

instante opaco
capturado e cristalizado
a dez passos da posteridade
a um passo do esquecimento

tentação indecorosa
broxantemente decadente
piranha? piranha!
dá pra quem quer tê-la

mal entoadas
melodramaticamente nasais
concluídas, inacabadas e oclusivas

átonas atônitas
grafadas em letras garrafais
gafe ágrafa

a palavra que emudece
muda

***

sorry, narciso!
pois ai de ti
quando o tempo der contigo

a esplendidez do teu passado de glórias
não passará de esvanecidas memórias

dias cálidos, loucamente desenfreados
emurchecerão o róseo de teus lábios despetalados

pois o tempo – vil algoz – levará de ti, consigo,
da melodia da voz até os dentes do sorriso

teus olhos castanhos tornar-se-ão vermelhos
esvanecendo teu reflexo deslustrado do espelho

então o rejúbilo de teus dias findará
e teu corpo, membro por membro, adoecerá

sentirás no cerne
a horripilante putrefação da juventude

enquanto os vermes
aguardarão do teu banquete com inquietude!

2 comentários:

Anônimo disse...

Dormiu com augusto dos anjos mi?!
Adorei...
Ainda bem que saiu do jejum.

João Vianna disse...

"sentirás no cerne a horripilante putrefação da juventude"

resumo da decadência da nossa geração em dois versos, perfeito! escreve mais.