domingo, 21 de setembro de 2008

apropriação poética ou chupação inescrupulosa?

Imponente, fica olhando pra mim com esse ar de quem me conhece por inteiro, e conhece. Sabe das minhas crises, do quanto eu esperneio, do quanto eu quero um pouco mais de tudo, do meu choramingar amor como menina mimada. Sabe que é a ele a quem eu vou recorrer, sabe que vou sentar e desfiar rosários, que é pra ele que conto os segredos mais pesados, o que ninguém mais sabe, o que ás vezes nem eu sei. Ele me disseca, me reescreve por partes, me documenta feridas, mexe onde eu não quero que doa, me aponta a vida tão crua, tão sobriamente real, tão cheia de casos e pessoas esquecidas atrás de lugares em mim que não mostro pra ninguém. Ele conhece todas que aqui habitam. A folha em branco, objeto de desejo de noites insônes, de pseudo epifanias criativas, de cartas de amor rasgadas, de sonhos que duram uma semana, é quase uma anatomia do meu corpo. E hoje ela não vai saber de nada. Essa dor é só minha. De mais ninguém.

(Paula Gicovate)
***

ninguém mais
só ele me reescreve
ele desfia a vida esquecida
de pseudo cartas de amor dissecadas
o quanto quero feridas criativas das minhas crises rasgadas
de sonhos insones e apontados
ele conhece
sobriamente crua
essa mimada de rosários brancos
de todas as partes um pouco
onde eu quero que doa
anatomia de dor
(esperneio pesado)
me documenta aqui
os segredos de uma menina imponente

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