tentei te ligar a cobrar. você não tinha bônus. enquanto eu fumava
na laje pensando em você, me sentindo quadrado, cafona, romântico. tudo que eu
pensava soava ter sido imaginado por outro alguém que não era o eu propriamente dito. não
que tivesse um “eu outro” na história, ou o wando. a história era eu fumando na
laje quando a polícia passou. se tratando de um campo grande, nesta história, poderia
ter sido um céu grandão de estrelado, que poucos bairros com tamanho potencial imobiliário
teriam visibilidade. luz de poste salvava de estupro, assalto e outras mumunhas
mais. no entanto, era mais que isso...
tentei te ligar a cobrar. talvez rolasse algum bônus e eu não
tivesse conhecimento. na laje à noite, a lua era do tamanho de um planeta na
minha cara, entre o meu indicador e o dedão ficava pequenininho. enquanto o fumo subia da laje. a milícia da zona oeste tem nome de super-herói e – vai por mim – tem
super poderes. mas aquilo ali era tão não sei o quê, que nem não dava pra acreditar de tanto
medo, meu filho! e olha que eu nem curto ficcionalizar ponto de referência em prol do meu desconstruego
escrevinhoredo – ó que humildade a minha, ó? desculpa qualquer coisa, tá?!
tentei te mandar um torpedo pra declarar guerra à minha
saudade! mas era num campo tão grande que chegava a ser forever. e todas as casas eram financiadas pela caixa
econômica federal. desemprego é anomalia semântica nesta historia, tá?! upis! quase esqueci que a
vizinhança era de um pardo tão embranquecido que de tanta pena chegava a dar
galinha. pisavam-se em ovos de ouro a cada quadra naqueles campos. daí – olha que
nada a ver – eu me escondi por detrás de uma máscara que não era a minha (foi estranho
pra cassete, de repente dar-se conta do nada que eu nunca fui e que por diversas
vezes distraidamente eu me imaginava sendo).
eu sempre soube que
não nos conectaríamos! que daríamos sempre ocupados, invisíveis, offline. era tudo
signo demais! muito ascendente, muito lua, muita babaquice astral! mas os campos eram
grandes e na laje fumava-se alto. e sem mais nem menos – polícia satori! tudo ficou
claro demais naquela noite de firmamento chapiscado de açúcar união. eu não era
mais dali – eu agora estava lá. eu e marina, um monstro
marinho cheio de algas e tentáculos -- um marinheiro só. logo eu: toda pembada! toda ridícula! toda
olho de araruta! toda cheia de azedume no estômago! toda cheia de qualquer coisa
que pulse ruim com cheiro de peido! toda dendê sem melado! logo eu, vil, assustadoramente vil e ladra! logo eu que era zero logus, zero grau – a mão toda poderosa tocou em mim, me
abriu os olhos pro alto e avuou a minha alma na mão de marina.
eu nasci menina pastora e não sabia.